"Em defesa dos direitos das pessoas com autismo"

domingo, 9 de dezembro de 2012

Carta encaminhada para a Presidente Dilma Rousseft



"Excelentíssima Sra Presidenta Dilma Rousseft.

Esta é uma mensagem despretenciosa, sem a intenção de lhe transmitir mais que o necessário para que conheça a situação em que vive uma parcela de seu povo, o povo que a elegeu e que em sua pessoa confia. Essa parcela conta com DOIS MILHÕES de pessoas, são autistas, nossos autistas, nossos filhos. Aqui lhe escrevo com o direito que a vida me concedeu, quando resolvi tomar nos ombros um pouco da dor de minhas companheiras, as mães dos filhos que meu coração adotou. Percebi Excelência, que o fardo é leve quando o dividimos com nossos pares e que ficamos mais felizes quando assim procedemos. Creio que percebi o mesmo que Vossa Excelência percebeu muitos anos atrás quando lutou contra a ditadura, quando se aliou aos companheiros de ideal para melhorar a situação de uma nação. Sentiu na pele a dor dos companheiros, e foi à luta sem temor e foi feliz mesmo sofrendo, sabendo que lutava por um ideal e conquistava assim justiça para todos! Hoje eu me dirijo à essa guerreira que chegou ao topo SEM PERDER A TERNURA, para que olhe por nós, as mães azuis, mães que conservam a ternura com mescla de esperança num futuro melhor para os filhos com autismo. Não pretendo aqui lhe descrever o que é autismo pois tenho certeza que deve saber, apenas acrescento que são destituídos de atendimento na rede pública e sequer tem o reconhecimento de que são pessoas com deficiência. Não é crítica de forma alguma, apenas uma questão de relatar brevemente do que se trata nossa luta. Nossos profissionais no Brasil, em sua grande maioria ainda desconhece a síndrome e não sabe como tratá-la. O diagnóstico precoce acaba vindo tardiamente e em grande parte dos casos não vem jamais...Infelizmente nossos filhos não tem tempo, tem síndrome, tem urgência de atendimento para desenvolver todo seu potencial e se tornar produtuivo, ser feliz! Esses são os filhos que nos tiram o sono muitas vezes, pelo amor que lhe consagramos, pela preocupação que temos quanto ao seu futuro devido à situação de vulnerabilidade em que se encontram. Essa é a carta da esperança, e eu deposito em suas mãos através de um amigo querido, companheiro de causa que Deus colocou em seu caminho e no meu caminho para que entregasse nessas mãos todo nosso sonho, toda nossa luta, todo nosso coração e sentimento. Uma chefe de Estado que faz o plano VIVER SEM LIMITES por certo não vai ignorar nossa situação, porque nossos filhos Excelência, vivem ainda limitados, pela falta de tratamento, pela ausência de pesquisa nessa área, pela falta de atuação do poder público em suas vidas. Com a união de pais conseguimos avançar com um Projeto de Lei, 168/11 que se encontra agora no Senado, em fase final de aprovação. Esse Projeto cria a Política Nacional de Proteção aos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Esse Projeto tem trazido esperança à muitas famílias e em torno dele se formou um exército de famílias com o objetivo de vê-lo aprovado, sancionado e posteriormente implementado. Hoje entregamos em suas mãos essa missão, a de dar um final feliz nessa história árdua e difícil porém linda que é a história das crianças autistas no Brasil. Nossos filhos serão sempre crianças pois são destituídos de malícia, ironia e maldade. São ingênuos e totalmente vulneráveis, não importando a idade. Nós confiamos agora na mulher que conquistou o coração dos brasileiros com pulso firme mas sorriso no rosto. Confiamos na mãe que se emociona com crianças especiais, por entender como toda mãe, a necessidade dos cuidados especiais que esses filhos precisam...Nossos filhos Excelência, precisam também VIVER SEM LIMITES, ter igualdades de oportunidades e nesse momento só a ternura do coração da grande mãe do Brasil poderá salvá-los. Eu não exagero, poderá constatar isso brevemente se tentar se inteirar da situação real dos autistas severos, muito comprometidos. Não pretendo entristecê-la com as histórias tristes que habitam o recôndito das casas humildes onde o autismo cresce sem nada que venha balsamizar suas dores. Prefiro confiar em seu sempre presente bom senso, usando a razão e emoção na dose certa no momento certo. Somos na grande maioria mulheres, onde do lar o pai se evadiu diante do grave problema do autismo, deixando-nos sós com um ser tão especial requerendo tantos cuidados. Junto com essa carta e esse Projeto de Lei lhe entregamos uma parte de nossa vida, nossa história, nosso futuro. Confiamos em sua sábia decisão e oramos à Deus!


Atenciosamente


Berenice Piana de Piana - Mãe de Dayan, 18 anos, autista."

Nenhum comentário:

Postar um comentário